sábado, 20 de fevereiro de 2010

Avareza


Penso que a maior dificuldade em ter que construir o personagem "Avareza" está no fato de este, talvez, ser o pecado menos estudado. As pessoas em geral tem uma opinião muito superficial quanto à avareza. Eu mesmo me descobri sem profundidade no conhecimento desse assunto.
Quando eu fui pré-selecionado pelos integrantes da companhia para fazer tal personagem, eu me vi muito perdido. Comecei, então, fazendo uma série de pesquisas para perceber tudo quanto eu conseguisse perceber sobre a avareza e descobrir qual linha interpretativa eu iria seguir. E os resultados não foram muito agradáveis! Eu só conseguia coisas relacionadas ao Tio Patinhas, ao Judas e ao dinheiro. E eu não pretendia seguir nenhuma dessas vertentes por motivos óbvios: Fora de cogitação alicerçar um personagem no Tio Patinhas; Quanto ao Judas, preferi tocar no seu nome de uma maneira muito mais subjetiva. É inegável a assimilação do nome Judas à avareza por muitos, porém eu particularmente não sei se é uma assimilação justa; No tocante ao dinheiro, eu não queria cair em algo supérfluo e previsível. Como a proposta não é mostrar o efeito do pecado, e sim SER o pecado, eu não poderia comprometer o espetáculo focando minha relação apenas no dinheiro.
Foi quando eu comecei a estudar mais a fundo e comecei a perceber coisas que antes nunca havia assimilado à figura avareza. Um dos pontos que mais me chamaram a atenção foi a carência, a necessidade quase que letal de não se sentir desprovido de nada, repito, nada. Pessoas avarentas tem um interior frio e oco. Acumulam coisas pretendendo se auto-preencherem, como se não estivessem satisfeitas com o que há por dentro delas mesmas. Penso que não existe nada pior do que estar insatisfeito com seu interior... O ser humano, HUMANO do jeito que é, inventa as maiores loucuras pra sair dessa sensação tão desesperadora, no caso da avareza, se satisfazendo com o que há por fora, tentando pôr isso pra dentro como se pudesse fazer isso. A idéia de posse, de manipulação, de poder sobre alguma coisa, traz a falsa idéia de preenchimento, mas só gera mais apego. Essa insatisfação constante alimenta uma idéia absurda de querer tudo para si, absolutamente tudo quanto puder.
Baseado nesses pontos principais enumerados acima e em outros secundários, fui absolvendo todas essas informações e começando a trabalhar a idéia de Avareza, não de Avaro, dentro de mim. Montei várias idéias, desde as mais estapafúrdias até as mais simples. A idéia que mais me instiga é a idéia de mostrar o lar da Avareza. Se eu fosse um dia convidado a ir à residência da Avareza, como seria? O que eu encontraria lá? Possivelmente algo que eu já tive e ela roubou, não é? hehehe. Estou trabalhando nessa idéia e tendo uma nova concepção atrás da outra. Sem mais insinuações sobre a minha cena. Espero não decepcionar o público. Vocês vão ter que conferir este trabalho que ainda vai dar muuuuito o que falar!